Nicias Ribeiro
BELÉM DO PARÁ [ ABN NEWS ] — No artigo “Uma Verdade Absoluta”, da semana passada, comentando a série “Amazônia – S/A” do “Fantástico”, da Rede Globo, lembrei de como era a vida das pessoas na Amazônia até meados do século XX, em face do seu isolamento do resto do País. Dai estranhar o fato de algumas pessoas serem, ainda, contrarias à construção das rodovias que, a partir do inicio dos anos 60, integraram a Amazônia ao resto do País, como a “Belém–Brasília” e “Brasília–Acre”, e, mais tarde, a “Cuiabá–Santarém” (BR 163), Transamazônica e a “Manaus-Porto Velho”; pelo simples fato de que elas facilitaram a migração de pessoas que, por sua vez, devastaram parte da floresta para a implantação de pastagens e lavouras de soja, milho e outras culturas.
É certo que ocorreram exageros no processo de ocupação e colonização da Amazônia, na segunda metade século XX, especialmente no Sul do Pará, onde, para acabar a “guerrilha do Araguaia”, o governo incentivou a derrubada dos castanhais para a formação de grandes pastagens o que sem duvida foi um crime, não só ambiental, mas contra as pessoas, até porque a “castanha do Pará” é um alimento dos mais nutritivos e era um produto de exportação.
Contudo, mesmo assim, os amazônidas festejam a construção dessas rodovias, ditas de “integração Nacional”, pelo simples fato de terem tirado a Amazônia do isolamento do resto do País, viabilizando, via terrestre, o transporte de alimentos e outros bens de consumo para o extremo Norte, acabando com o desabastecimento dos nossos caboclos ribeirinhos, que, a rigor, integram as chamadas populações tradicionais da Amazônia e que, tal e qual os brasileiros do Sul e Sudeste, comem, vestem e sonham.
Da mesma forma, levando em conta a necessidade de oferta de energia firme no Brasil, assombra-nos o fato de muitas pessoas, tidas como iluminadas, serem extremamente contrarias a construção de hidrelétricas na Amazônia, mesmo considerando que é só nesta região, especialmente no Pará, que ainda existem grandes potenciais hidrelétricos a serem aproveitados, para a geração de energia elétrica. E se assim é, porque não se constrói essas hidrelétricas para produzirem a energia de que o Brasil tanto precisa, para o seu desenvolvimento?!… Só porque vão causar alagamento em algumas áreas?! Mesmo sendo a fio d’água e sem reservatório de acumulação?!…
Não há como construir hidrelétrica, por menor que seja, sem causar danos ao meio ambiente natural. Aliás, isso acontece com qualquer obra, até mesmo quando se faz um “tapiri”, na mata, que é um abrigo feito de açaizeiro, coberto com palha, sem paredes e sem assoalho, onde o caçador passa à noite a espera da caça.
O Brasil precisa de energia para voltar a crescer, economicamente. E as hidrelétricas da Amazônia, podem gerar a energia firme e abundante de que o Brasil precisa e a um custo barato, pelo simples fato de ter muita água na região. E considerando este fato, é inteligente o Brasil usar a energia de Termoelétricas, à diesel, que, além de suja e poluente, é caríssima, em detrimento das hidrelétricas da Amazônia?!…
“Não se faz omelete sem quebrar os ovos”. Se queremos ter energia firme e barata faz-se as hidrelétricas. Do contrario, vamos continuar tendo uma energia cara gerada pelas termoelétricas, que, aliás, tem hoje uma participação de apenas 22% no sistema. E se aumentar essa participação, mais cara ficará a conta de luz.
Neste ano, espero que ocorra o leilão de concessão de São Luiz do Tapajós, a primeira do complexo hidrelétrico do Tapajós e cujo EIA-RIMA está pronto há mais de um ano. Em 2016, entra em operação a primeira maquina de Belo Monte e dizem que ocorrerá o leilão de concessão da hidrelétrica de Marabá. Tem ainda um fabuloso potencial na bacia Xingu – Irirí e assim por diante. Porque então optar pelo uso de Termoelétrica?
Mas, como diz a Fernanda Montenegro: “a Amazônia continua dando mais para o Brasil, do que o Brasil para ela”. E é fato!
Por isso, defendo a construção de hidrelétricas na Amazônia. Mas, com a devida e justa remuneração pelo serviço prestado, pela energia gerada, seja com a taxação do ICMS na fonte ou com pagamento de “royalties” da geração de energia. Ai todos ganham inclusive a Amazônia.
[*] Nicias Ribeiro, Especialista em Energias, é Jornalista, Articulista e Engenheiro Eletrônico.